quinta-feira, 13 de junho de 2024

Como Marechal Floriano surgiu, se desenvolveu e se transformou em município


No final da década de 50 do século XIX, o crescimento vegetativo da população na Colônia de Santa Isabel causava problemas sérios, principalmente em função da carência de terras para os descendentes dos imigrantes pioneiros. Assim, para as famílias enormes, geralmente com mais de 10 filhos, aqueles 10 hectares iniciais que cada imigrante recebeu não eram suficientes para assentar todos os filhos, que constituíam suas próprias famílias e precisavam de terras para tocar suas vidas.

Quando foi nomeado Administrador da Colônia, o engenheiro militar Adalberto Jahn percebeu que o problema já causava conflitos, até mesmo entre irmãos, e decidiu contratar um agrimensor para medir novos lotes para acomodar os descendentes dos colonos pioneiro e também famílias de nacionais. Contratou então , em 1848, o Agrimensor Hermann Steinkopf que, de acordo com evidências, encontra um local com águas fartas às margens do Rio Braço do Sul, no qual decide alocar a ampliação da colônia e faz a medição dos lotes.

Esse lugar no qual foram medidos os lotes passou então a receber os moradores nos lotes medidos por Steinkopf, recebendo, em 22 de outubro de 1862, através do relatório do Coronel e engenheiro Pedro de Alcântara Bellegarde, Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, a denominação de Vila Nacional do Braço do Sul.

Navio A. Borsing, com imigrantes germânicos que foram direcionados à Vila do Braço do Sul em 1862.
Foto: acervo de Jair Littig

Em 1900 Phillip Endlich Constrói o primeiro prédio de 2 andares na Vila do Braço do Sul,
situado na margem direita do rio, após o anúncio de que a estrada de ferro passaria pela região.

Foto: acervo de Jair Littig

Apesar das dificuldades iniciais, superadas em parte com a construção de uma ponte para ligar a margem direita do rio (entre a passarela da rodoviária e o local onde hoje se localiza o segundo trevo no sentido Vitória-Belo Horizonte) ao lado esquerdo, por que a vila era um grande banhado, com muito mosquito que transmitia a febre amarela, com o tempo o lugar foi-se desenvolvendo, com mais pessoas chegando depois que outro agrimensor, Pedro Cláudio Soído, mediu mais 100 lotes na margem esquerda do rio.


Entretanto, o verdadeiro divisor de águas para o desenvolvimento da Vila foi a notícia de que por ela passaria a Estrada de Ferro Sul do Espírito Santo, que começou a ser construída em 1895. E ainda maior importância teve a construção de uma estação desta estrada de ferro, dentro da vila, cujo término se deu no ano de 1900, com inauguração em 13 de maio daquele ano. Este evento foi marcado pela presença de autoridades estaduais e federais, entre as quais de destacam a do Presidente do Estado, José Marcelino Pessoa de Vasconcelos (06/01/1898-23/05/1900), que encerrava seu mandato, e do Presidente do estado eleito para o quadriênio 1900-1904, José de Melo Carvalho Muniz Freire.

E foi exatamente por sugestão do Presidente estadual que tornaria posse em dez dias, que a Estação que se inaugurava recebia o nome Estação Marechal Floriano, uma homenagem de Muniz Freire ao primeiro vice-presidente da República, Marechal Floriano Vieira Peixoto, falecido em 29 de junho de 1895.


Estação Marechal Floriano, inaugurada em 13 de maio de 1900
na Estrada de ferro Sul do Espírito Santo.

Foto: Divulgação

Em pouco tempo, sobretudo pela importância da Estação na vida das pessoas, como local onde chegava e de onde partiam mercadorias, pessoas e ideias, a população passou a se apropriar da denominação da estação como nome do próprio lugar, conforme comprova uma carta do morador Hermann Hülle, datada de 12 de julho de 1900. Contudo, apesar dessa apropriação, o lugar só passa a ser oficialmente Marechal Floriano quando, em 13 de janeiro de 1964, através da Lei estadual Nº 1.956, transforma-se em distrito com esta denominação, pertencendo ao município de Domingos Martins.

A partir da década de 1990, tendo como aliado o também distrito de Araguaya, o distrito de Marechal Floriano inicia uma campanha para se emancipar de Domingos Martins, cujo processo foi acolhido e aprovado pela Assembleia Legislativa do Espírito Santo, autorizando a realização de um plebiscito no qual o eleitor de Marechal Florianome de Araguaya deveria ser consultado sobre o desejo de se emancipar ou não de Domingos Martins.

E em 3 de junho de 1991 realizou-se o plebiscito e com 3.623 votos “sim”, 288 votos “não”, 97 votos branco e 26 nulos, Marechal Floriano e Araguaya decidem que desejam se desligar de Domingos Martins para formar o Município de Marechal Floriano. Este resultado foi acatado pelo então governador, Albuíno Cunha Azevedo (PDT), que sanciona a Lei Estadual nº 4.571, de 31 de outubro de 1991, criando oficialmente o Município de Marechal Floriano, com 285, 495 km2 , tendo como municípios fronteiriços Viana, Domingos Martins, Alfredo Chaves e Guarapari. Todavia, o novo município ainda permaneceu administrado pelo prefeito de Domingos Martins, Lourival Berger, até a posse do prefeito, vice-prefeito e vereadores, eleitos em 06 de outubro de 1992 e empossados em 1º de janeiro de 1993.

Mapa de apuração de votos no plebiscito de 30/06/1991
Foto: Acervo Nides de Freitas


O primeiro Prefeito, Elias Kieffer, e seu vice, Carlos Prest, assumiram o cargo, portanto, em 1º de janeiro de 1993, data em que também foram empossados os vereadores da primeira legislatura da Câmara Municipal, assim composta: João Carlos Lorenzoni (Presidente no biênio 1993-1994) (PSDB), Nides de Freitas (Presidente no biênio 1995-1996) (PDT), Paulo Lovatti Junior (PDS), Tarcísio Antônio Borgo (PMDB), Paulo César Gilles (PMDB), Lourival Schunk (PMDB), Moacir Elias Kuster (PDT), Amarílio José Klein (PDT) e Lastene Stockl (PDT). A partir daí Marechal Floriano se torna um ente federativo administrativamente autônomo e sua população, através dos representantes eleitos, passa a exercer o poder municipal de forma independente.

Elias Kieffer foi o primeiro prefeito de Marechal Floriano.
Foto: CMMF


Atualmente grandes projetos industriais e comerciais, a exemplo de uma grande empresa beneficiadora de aves, torrefadoras de café, um supermercado atacadista e muitos comércios ligados à agropecuária, geram milhares de empregos na cidade e acabam atraindo muitas pessoas de cidades vizinhas e da Grande Vitória. Em função disso, a população do município cresceu 23,69% entre 2010 e 2022, de acordo com os Censos do IBGE, o que significa que praticamente 1 em cada 4 moradores chegaram à cidade ou nasceram a partir de 2010. Mas junto desse crescimento demográfico houve crescimento ainda maior da economia, que no mesmo período cresceu mais de 100%, fazendo com que o município fugisse da chamada "armadilha demográfica", que ocorre em cidades nas quais o crescimento demográfico supera o crescimento econômico.

Planta industrial da Oi Frango, em Soído de Baixo,
onde estão empregadas mais de 1000 pessoas.

Foto: Divulgação