sexta-feira, 12 de maio de 2023

Por quê é relevante o feriado municipal do "Dia da Estação"?


Fato controvertido, o feriado municipal do "Dia da Estação", comemorado no dia 13 de maio de cada ano após a edição da Lei Municipal nº 0054/93 (alterada pela lei Municipal 2.338/21, de 28 de julho de 2021), mobiliza defensores e detratores no debate público que se dá na cidade de Marechal Floriano.

Estação Marechal Floriano, inaugurada em 13/05/1900

Para o empresário Enildo Antônio Cardoso, que foi Secretário de Cultura do município quando o feriado foi criado, em 1993, a data comemorativa se justifica, por que a estação é, mais que um símbolo do município, uma referência histórica para a população, tendo o próprio nome do município surgido do nome da estação.

Esta mesma visão é compartilhada pela gestora cultural Sônia Mara Veloso Werneck, que esteve à frente da ação que culminou com o tombamento da Estação. Segundo Sônia, a localidade tinha o nome de Vila do Braço do Sul, ligada à Colônia de Santa Isabel, município de Viana, quando, em 1900, foi inaugurada a estação ferroviária nessa vila, com o nome de estação Marechal Floriano. E esse evento foi tão importante, que as pessoas passaram não apenas a denominar a estação pelo nome de Marechal Floriano, mas lentamente foram se apropriando do nome como sendo de toda a vila. " Foi o povo que adotou o nome como sendo o do lugar, não foi algo imposto por uma lei ou decreto vindo de cima. Assim, a estação faz parte do próprio processo de construção identitária da população florianense ", explicou a gestora cultural.

A publicação do jornal O Cachoeirano mostra que, na inauguração, o nome
Marechal Floriano referia-se apenas à estação e não a todo o lugar.


E de fato a estação teve papel tão relevante para a população que esta passou a adotar seu nome como sendo o nome do lugar, conforme comprova a carta do morador Hermann Hülle, que consta do acervo de Jair Littig, pesquisador da memória florianense. A fonte comprova que, apenas dois meses após a inauguração da estação, o morador já se referia ao seu endereço de remetente como sendo Marechal Floriano, e não Vila do Braço do Sul, conforme constava oficialmente.


Na documentação oficial, alguns registros de terras também apresentam o lugar como sendo Marechal Floriano (e não Vila do Braço do Sul) já no início do século XX. Uma aquisição de Roberto Hertel, datada de outubro de 1917, firmada em Araguaya (então já distrito do município de Santa Izabel), atesta essa denominação. A curiosidade desse documento é que o lugar Marechal Floriano aparece como vila do Distrito de Araguaya nesse período, levando-se em conta que hoje é Araguaya que é distrito do município de Marechal Floriano.



Em sua obra Marechal Floriano... Resgatando Memórias (2018), a escritora florianense Giovana Cristina Schneider apresenta também muitos anúncios comerciais da Vila do Braço do Sul publicados no início do séc. XX, referindo-se ao lugar como sendo Marechal Floriano. Na hemeroteca da Biblioteca Nacional, por seu turno, estão depositadas fontes, mostrando anúncios publicitários, que corroboram a tese de que a população adotou o nome da estação como sendo o do lugar, mesmo sem que houvesse qualquer determinação oficial nesse sentido.

Anúncio publicado no Diário da Manhã em 1916



Mas mesmo sendo consagrado o nome de Marechal Floriano como costume dos locais para se referirem ao seu lugar de habitação, é somente em 1964 que oficialmente a localidade torna-se o distrito de Marechal Floriano, administrativamente ligado ao município de Domingos Martins. E é só em 30 de junho de 1991 que vota pelo "sim" e se emancipa (ato oficializado através da Lei Estadual nº 4.571/1991, de 31 de outubro de 1991), tornando-se a cidade de Marechal Floriano.

Historicamente, então, o feriado encontra justificação no fato de que a estação tornou-se um símbolo tão importante para os moradores, que o próprio nome do município dela deriva, sendo consagrado pela população local, que acolheu-a como elemento que construiu a própria identidade florianense.

*Licenciado em Ciências Humanas e Sociais pela UFES e titular da cadeira Arnaldo João Kuster, nº 11, na  AFHAL - Academia Florianense de História, Artes e Letras "Flores Passinato Kuster".


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